Por Luiz Trevisan

Em toda campanha, a primeira pesquisa eleitoral publicada sempre é sujeita a desconfianças e a gente não esquece. Ou pelo menos não deveria esquecer, até para comparar depois. Mas quem se lembra bem dos candidatos em que votou nas últimas eleições?

Há toda uma crença no mercado de que a primeira consulta sobre intenções de votos majoritários é algo “passivo de manipulação” para inflar ou desidratar determinadas candidaturas. Já a primeira pesquisa divulgada sobre a sucessão estadual 2018, feita pelo Instituto Futura (agora com nova composição de sócios em formação), sinalizou que vem por aí uma disputa equilibrada para governo e Senado.

O ombro a ombro estatístico registrado entre o governador Paulo Hartung e Renato Casagrande, seguidos por Rose de Freitas, mais as intenções de votos ao Senado onde Magno Malta, Ricardo Ferraço e Amaro Neto apareceram quase embolados, asseguram fortes emoções eleitorais.

Se alguém foi ali anabolizado ou desidratado, isso só iremos saber mais adiante. Agora, entramos na fase da pulverização das candidaturas. “Espalha, espalha que sou candidato” virou bordão entre lideranças prospectando terrenos e suas possibilidades.

Outro dado revelado pelos números é que o governador é quase um refém do seu grupo político. Nenhum outro aliado parece fazer frente eleitoral à dupla da oposição (Casagrande e Rose), daí que a conversa de que Hartung ainda poderá abrir mão da reeleição, para lançar alguém do grupo, não parece convencer muito.

“Agora é PH ou PH. Ou entregar a rapadura oficial”, compara Zezito Maio, fiel escudeiro do governador. Isso não significa que Hartung irá sozinho disputar em nome do grupo.

Como é uma eleição com cara de segundo turno, também o governador poderá ter aliados concorrendo ao governo, ao seu lado, para dividir votos no primeiro turno, e somar depois. Andre Garcia e Fabiano Contarato, por exemplo, estão aí mesmo, e pontuaram até relativamente bem na primeira pesquisa.

Além da fama de bom gestor, PH é considerado estrategista hábil, frio, calculista. “PH não erra nunca,” destacam aliados apontando sua trajetória de sucesso nas urnas. E além da vantagem da máquina na mão, o governador terá acesso mais fácil aos financiadores de campanha. O bloco governista tem ainda como trunfo desconstruir a administração de Casagrande, considerado por eles “gestor inexperiente” e de equipe apenas mediana.

Para oposição, o primeiro desafio é arranjar fôlego financeiro para tocar uma campanha desse porte numa conjuntura de recursos vigiados e estreitados pela Lava a Jato. E depois tratar de explorar pontos de desgaste desta terceira gestão de Hartung rotulada como “mais do mesmo”. O que a oposição não quer é incorrer no erro da eleição de 2014, quando não apareceu um terceiro nome de peso para dividir votos e jogar disputa para segundo turno. Até apareceu, o então deputado Roberto Carlos

(PT), mas ele veio visivelmente desidratado dentro de um arranjo partidário. A palavra de ordem no PT era eleger João Coser ao Senado, apoiar informalmente PH e não inflar o balão de Roberto Carlos. Foi por aí, só não conseguiu eleger Coser, pois Rose de Freitas, embalada pela rede municipalista, levou a vaga.

Quanto à disputa para o Senado 2018, na primeira pesquisa surpreendeu o bom desempenho dos senadores Magno Malta e Ricardo Ferraço, que vão buscar a reeleição. Estariam artificialmente inflados? Esses números serviram para dar uma esvaziada no balão erguido na Assembleia Legislativa por mais de 20 deputados, que apóiam Amaro Neto, que em 2014 foi o campeão de votos na Casa. Apressadinhos já sugerem que Amaro baixe a bola e tente a Câmara Federal. Ou fique onde está.

E também diminuiu o balão do deputado Sérgio Majeski, revelação do bloco de oposição, que precisa ficar atento ao canto da sereia quando tem porto mais seguro à vista, como a própria reeleição.

Majeski ainda tem a chance de compor na vice de Casagrande. Porém nada está definido, balões sobem e descem, não existe eleição fácil e há muita água para rolar sob a Terceira Ponte – enquanto as esperadas balsas turísticas não aparecem. Quanto às pesquisas iniciais, elas servem para isso: fazer navegadores, principalmente os menos experientes, distinguirem o canto da sereia.

(Trevisan é natural da capital secreta)