BRASÍLIA – AGÊNCIA CONGRESSO – Após o deputado Lelo Coimbra (MDB-ES) ter comparado o presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, a fenômenos eleitorais de protestos como a votação em massa no macaco Tião, no RJ, em 1988, e do mosquito, em 1987, para prefeito de Vila Velha (ES), dois professores doutores da Universidade de Brasília (UnB) descartaram a ideia de que o ex-militar represente a negação da política.

A declaração de Lelo foi feita ao canal CNT no último domingo, 22. Mas após a grande repercussão da notícia, o parlamentar capixaba que é líder da maioria que apoia o governo Temer se retratou no grupo de whatsapp do site.

Em nota, informou que suas declarações tinha como objetivo demonstrar que o voto em Bolsonaro está estritamente ligado a insatisfação da população com a classe política e que a comparação foi indevida.

Ouvidos pela reportagem da Agência Congresso, os professores doutores da UnB, David Fleischer, e, Paulo Kramer, recusaram também a hipótese levantada pelo deputado Lelo de que Bolsonaro é resultado da insatisfação da população com os políticos.

Para ambos, está equivocado esse sentimento que coloca o pré-candidato do PSL como resultado da negação da política.

Líder nas pesquisas

Com a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, devido a sua prisão, Bolsonaro assume a liderança.

De acordo com a última pesquisa do DataPoder360 divulgado no último dia 21, o parlamentar fluminense aparece ter entre 20% a 22% da preferência do eleitorado.

Em 2lugar surge o nome do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que aparece entre 13% e 16%.

Competitivo”

Acho que está na hora de pararmos de achar que o Bolsonaro é pouco competitivo, algo que é muito mais projeção dos desejos e temores do comentariado do que qualquer outra coisa. Ele é competitivo”, comentou Paulo Kramer, doutor em ciências políticas pelo Instittuto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

E digo mais: pesquisas de circulação restrita mostram que ele é o mais bem posicionado para atrair votos dos eleitores de outras candidaturas, quando estas são excluídas nas diversas simulações. Por último, mas não em último, se Bolsonaro fizer ajustes consentâneos com as observações acima, reduzirá significativamente sua vulnerabilidade no 2º turno”, avaliou Kramer.

Não esqueçamos que ele é deputado federal pelo RJ por cinco mandatos. Mas mesmo assim ele é considerado outsider por não fazer parte da elite tradicional política brasileira. Ele não pode ser comparado a estes fenômenos objeto de protestos. Isso não é uma boa comparação”, disse David Fleischer, doutor em ciências políticas pela Universidade da Flórida.

Enéas

Ele é o mesmo fenômeno de Enéas que era contra [nos anos 90] a política tradicional. Em 1994, Enéas teve mais votos para presidente em SP que Quércia e no RJ que Brizola. O que foi uma vergonha para os dois ex-governadores”, complementou o professor Fleischer.

Mas não sei se podemos comparar o Enéas com o Bolsonaro. O Enéas era totalmente radical, era a favor da bomba atômica e outras coisas bem radicais. Eu acho que o Bolsonaro não é a favor da bomba atômica. O problema do Bolsonaro é que até agora não mostrou a que veio. Não tem nenhuma proposta ou programa econômico e ou social”, completou.

Satisfeito com a retratação

Coordenador da campanha de Bolsonaro no ES, o deputado Carlos Manato (PSL) não quis se manifestar. Informou apenas que ficou satisfeito com a retratação feita pelo colega de bancada, deputado Lelo, no grupo de zap da Agência de Notícias.

Sobre os comentários de diversos oponentes do presidenciável do PSL afirmando que Bolsonaro é, sim, um fenômeno que marca a negação na política, ele falou apenas que isso era “normal” da disputa política.

Por Humberto Azevedo