Presidente Jair Bolsonaro Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

BRASÍLIA – As recentes falas do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados sobre uma eventual ruptura institucional aliadas às ultimas pesquisas que mostram queda da popularidade do presidente levaram o economista Eduardo Moreira a criar e espalhar uma hashtag que acabou compartilhada milhares de vezes por usuários de diversas redes sociais no último fim de semana.

Por meio da #Somos 70 por cento, opositores ao governo Bolsonaro quiseram deixar bem claro que são maioria no País.

Segundo o economista, os representantes dos outros 30% – que são, portanto, minoria – colocaram a maioria com medo com seus robôs e estratégias de difamação e violência.

“Alguém que faça parte de um grupo de WhatsApp  com 100 pessoas onde 5 são radicais bolsonaristas não têm coragem de se expor, por se sentir como se minoria fosse. A ideia do movimento é resgatar esse direito, empoderar as pessoas para que voltem a falar. Seja a favor de Ciro ou Lula, de impeachment ou cassação da chapa, de socialismo ou capitalismo. O que não pode é ter o medo de participar do debate por ser acuado como se os 70% fossem a minoria”, afirma.

A repercussão foi tamanha que em apenas dois dias já surgiram camisetas, canais no Youtube, memes e vídeos com a “marca” #somos70porcento. Também já existem projetos de encontros culturais com artistas do povo e famosos batizados com a mesma hashtag.

“Recebi varias mensagens de pessoas dizendo que nos últimos dias os vizinhos que tinham bandeiras com temas fascistas, agressivos ou de apoio ao governo em suas varandas e janelas os retiraram. A maioria esta voltando a ocupar o seu lugar democrático e resgatando sua voz.” Acompanhe a entrevista:

Como surgiu a ideia de criar a #somos70porcento?

A ideia surgiu num debate em que eu participava e o assunto da última pesquisa de popularidade do presidente Bolsonaro surgiu. Apesar do aumento da rejeição ao presidente mostrada na pesquisa, os participantes do debate se mostraram frustrados por conta dos 30% que apoiam o presidente não terem baixado de patamar.

Eu disse então que era curioso como nós, os 70% que rejeitávamos esse governo anti-democrático, nos sentirmos como se fôssemos minoria e dar tanto peso aos 30% que eram minoria. Disse, então, a frase: “o problema do Brasil é que os 30% se sentem como 70%.

Os 70% se sentem como 30%”. No mesmo momento vi os olhos dos participantes brilharem como se uma ficha tivesse caído. Senti que a frase tinha acertado o alvo. Postei ela então no twitter e ali começou o movimento, que ganhou uma força e velocidade incriveis no Brasil inteiro.

 

Eduardo Moreira
O economista Eduardo Moreira, idealizador do movimento virtual #Somos70PorCento Foto: Geraldo Magela/Agência Senado (25/3/2019)

“Somos 70 por cento” contra o presidente Jair Bolsonaro? É isso, e o que mais?

Na verdade, a ideia é lembrar que somos 70% contra o que se colocou como projeto de País. Somos 70% que rejeitam a aproximação com o centrão, 70% contra as afirmações de Bolsonaro a favor do armamento, 70% que consideram o governo ruim/péssimo/regular, 70% que são contra a política deste governo para a Amazônia, 70% que apoiam o isolamento social…

Curiosamente, são também cerca de 70% os pobres que vivem com uma renda per capita abaixo de 1 salário mínimo  no Brasil e que mais sofrem com um projeto de governo que não olha para os mais pobres.

Por que é importante mostrar que a maioria não apoia o presidente? Que diferença isso pode fazer no cenário atual?

O importante é dar voz para as pessoas, resgatar o direito de opinar, de se expor. A minoria colocou a maioria com medo com seus robôs e estratégias de difamação e violência.

Alguém que faça parte de um grupo de WhatsApp com 100 pessoas onde 5 são radicais Bolsonaristas não têm coragem de se expor, por se sentir como se minoria fosse. A ideia do movimento é resgatar esse direito, empoderar as pessoas para que voltem a falar.

Seja a favor de Ciro ou Lula, de impeachment ou cassação da chapa, de socialismo ou capitalismo. O que não pode é ter o medo de participar do debate por ser acuado como se os 70% fossem a minoria.

Essa ideia ganhou status de campanha. É uma campanha? Quais os objetivos, ações que serão promovidas?

Eu acredito em movimentos que são independentes e muito maiores do que seus criadores. Na verdade, nem me sinto como criador do movimento, eu simplesmente falei a frase e notei que ela tinha força, como tem força o “I can’t breath” nos EUA.

A força está na causa e não no Eduardo. E a causa ganha força e escolhe seu caminho naturalmente. Já existem projetos de encontros culturais com artistas do povo e famosos batizados de #somos70porcento.

Camisetas feitas por canais do YouTube com toda renda revertida para projetos sociais com a marca #somos70porcento. Artes, memes, vídeos produzidos com esse mote. Isso é incrivel! E, naturalmente, o outro lado passa a se ver como realmente é: minoria.

Recebi varias mensagens de pessoas dizendo que nos últimos dias os vizinhos que tinham bandeiras com temas fascistas, agressivos ou de apoio ao governo em suas varandas e janelas os retiraram. A maioria esta voltando a ocupar o seu lugar democrático e resgatando sua voz.

fonte: Estadão