BRASÍLIA – AGÊNCIA CONGRESSO – Há algumas semanas o confronto aberto entre o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o presidente Michel Temer (SP), se acirrou.

A disputa vai desde a indicação de cargos de direção em estatais até o comando da Comissão e Orçamento do Congresso, a CMO, que deverá ser presidida pela senadora Rose de Freitas (ES).

Após ouvir algumas negativas de Temer, Calheiros subiu o tom das críticas e usou suas redes sociais para chamar o governo de “provisório” e que Temer não poderia fazer tantas modificações na vida dos brasileiros.

O senador chamou a recém sancionada lei que permite a terceirização irrestrita de “boia-fria.com” e disse que como está não há chances da reforma da Previdência passar.

Enquanto isso, Temer tenta minimizar os golpes proferidos pelo colega de legenda.

Se reuniu com o filho do senador que governa Alagoas, afirmando que não há ressentimentos entre eles. Também mandou ministros saberem o que Renan quer.

Essa postura aconteceu até a semana passada quando pela primeira vez declarou que Renan “sempre agiu desta maneira”.

“Ele vai e volta”, afirmou disparando uma pequena crítica ao comportamento do líder do PMDB no Senado.

A partir daí novas indicações para estatais foram feitas pelo Palácio do Planalto sem quaisquer consultas ao líder peemedebista no Senado. A disputa em torno da comissão de orçamento ficou a flor da pele.

Na última quarta-feira (12) houve mais uma tentativa frustrada de retomar os trabalhos da comissão.

Renan havia se comprometido em indicar a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) na presidência do colegiado.

Mas recuou após a própria senadora ter criticado a postura de Renan de confronto a Temer.

Renan quer indicar também o relator da comissão, que será um deputado, mas não aceita que seja um aliado de seus adversários políticos.

Desconforto
Questionado sobre o assunto, um importante peemedebista afirmou que nem Renan,
muito menos Temer darão um puxão maior nesse cabo de guerra que se tornou a
disputa entre eles.

Segundo ele, também não há perigo da corda arrebentar e sobrar para um dos lados.

“Eles são inteligentes. Vão chegar a um acordo”, disse.

Entretanto, o peemedebista mandou um aviso: “Se ele (Renan) continuar com isso (batendo duro no governo), os caras lá (os senadores do PMDB liderados por Renan) podem começar a se irritar e ele perder a liderança”.

Essa posição é parecida com as adotadas pelos deputados Rogério Rosso (PSD-DF) e Jorge Silva (PHS-ES).

Ambos acreditam que Temer e Renan, precisam entrar em acordo o mais rápido possível.

Eles lamentam que tal disputa aumenta a instabilidade política e acaba respingando na crise econômica que assola o país.

“Renan e Michel Temer historicamente sempre tiveram excelentes relações e tenho certeza que se houver algum tipo de risco, isso vai ser superado certamente porque os problemas do Brasil são muito maiores do que questões pessoais”, afirmou Rosso.

“Essa briga é ruim para o governo, para a crise econômica e para o Brasil. Na medida em que o governo não consegue ter uma base de sustentação forte e equilibrada que permita aprovar as reformas necessárias, isso fragiliza o governo”, disse o capixaba Jorge Silva.

Sobrevivência
Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) os motivos das brigas entre o presidente Temer e o senador Renan Calheiros, ocorre devido a luta pela sobrevivência política
de ambos.

De acordo com o socialista, Temer luta para garantir credibilidade ao seu governo, o
que permitiria terminar o seu mandato.

Já Renan, atento ao seu eleitorado, observa que é preciso se distanciar de um governo que poderá comprometê-lo eleitoralmente no próximo ano.

“Essa briga tem um reflexo aqui para a Casa e para as eleições. Para a Casa é a possibilidade concreta da derrota das propostas de reformas da Previdência, trabalhista, da renegociação das dívidas dos Estados que estão sendo bancados pelo governo”, analisou.

“Com relação eleitoral é um jogo que Renan faz nesse momento em que o governo Temer patina e que vê a possibilidade de muita dificuldade nas eleições de 2018 em Alagoas, onde a força do lulismo se reforça em cima da inapetência e incompetência do governo do PMDB”, avaliou.

Sinuca de bico
Já um outro importante parlamentar que preferiu o anonimato para falar da situação
entre Temer e Renan, avaliou que o governo meteu os pés pelas mãos ao defender
com tanta ênfase a reforma da previdência.

Segundo ele, “não há clima” na base para aprovar o que foi proposto. “O governo está caminhando para uma sinuca de bico”, observou ao avaliar a completa falta de tato político da equipe governista responsável pela elaboração da proposta.

Segundo ele, o melhor seria o governo abandonar a ideia de reformar a Previdência.

Mas depois de tanto alarde feito, informando que sem a reforma o país quebraria, o governo Temer – segundo ele – não pode mais desistir da ideia.

“E aí pode morrer abraçado com ela”, frisou.

Já para outro deputado que também pediu o anonimato e que integra a base de sustentação do governo Temer, a divulgação da lista dos nove ministros, 29 senadores e 42 deputados federais que serão investigados por supostos crimes referentes a operação Lava Jato, dá a impressão de que é o fim da linha para o governo Temer.

Por Humberto Azevedo