Nem bem começou o ano e o governador Paulo Hartung (PMDB) já emite sinais do que pretende em 2018.

O desenho revelado é fiel ao seu estilo: nada muito claro, pistas difusas, ninguém pode garantir que ele vai tentar a reeleição, buscar o Senado ou simplesmente se colocará à margem do processo eleitoral.

Somente uma coisa é certa, candidato ou não, ele jamais descuidará do controle remoto de toda a engrenagem que opera da cadeira número 1 do Palácio Anchieta.

Aliás, controle remoto talvez não seja a expressão mais apropriada, visto que PH sempre tenta operar com um controle absoluto.

Não prospectando os meios que ele utiliza, mas mirando seus objetivos, percebe-se que ele prioriza sempre manter boas relações com Ministério Público, Tribunal de Contas, Judiciário e Legislativo. Isso é o trivial.

A novidade agora é a extensão desta “parceria” no âmbito do Legislativo e até de organizações de pouca ou nenhuma expressividade, como a Associação Capixaba dos Municípios (Amunes).

No Legislativo, já não é suficiente a “parceria” com a Mesa-Diretora. Ou seja, não basta apenas apoiar a eleição de um presidente da Casa e, por extensão, sinalizar seus favoritos para ocupar os postos principais.

Agora, interessa também assegurar aliados até no comando das comissões permanentes mais importantes. Na última sucessão interna do Legislativo, isso ficou bastante evidente.

A falta de apoio do Palácio Anchieta para mais uma reeleição de Theodorico Ferraço (DEM) na presidência já estava sinalizada, nas entrelinhas, nos bastidores.

Elementar: Theodorico Ferraço à frente da Assembleia Legislativa, em pleno processo sucessório 2018, poderia ser uma pedra, das grandes, no sapato de PH, na hora de definir candidaturas.

Não é segredo nenhum que Theodorico acalenta o desejo de ver o filho, senador Ricardo Ferraço (PSDB), ser eleito governador.

Neste caso, o que PH não abre mão é do poder de decidir. O futuro escolhido poderá até vir a ser o senador, mas até lá muita água vai rolar sob a Terceira Ponte.

Lógico que o mercado político já fez sua leitura cartesiana: alijamento de Theodorico Ferraço aponta que o filho é carta fora do baralho 2018, na disputa pelo governo, e o senador terá que se contentar com a reeleição, e olhe lá.

Mas como sempre escapa algo do controle, agora Theodorico Ferraço bate o pé e começa a engrossar um movimento de oposição ao governo dentro da Assembleia Legislativa.

Chama a atenção como esta postura do ex-presidente da Assembleia passa quase batido pela mídia tradicional.

Igualmente chama a atenção a súbita importância adquirida pela disputa à presidência da Amunes, no final de março.

Entidade que agrega prefeitos e que tem um poder restrito, quase subjetivo, normalmente elege um candidato por consenso, sem disputa, e de preferência algum aliado do governo.

Agora estão dois no páreo: o candidato Guerino Zanon (PMDB), prefeito de Linhares, nome preferido do Palácio Anchieta, e o prefeito de Viana, Gilson Daniel (PV), próximo do grupo do ex-governador Renato Casagrande (PSB) e da senadora Rose de Freitas (PMDB), com quem PH tem uma relação política de amor e ódio.

Casagrande, por sinal, também costuma operar junto a aliados por controle remoto. A diferença é que agora ele não tem cargos, nem a chave do cofre, está na planície.

Mas tem a seu favor um capital político expressivo acumulado, para utilizar em futuras disputas eleitorais, seja o Senado, governo, ou mesmo Câmara Federal, tudo dependerá da conjuntura e, claro, do rumo que PH tomará. Eis aí outro xadrez: PH é mestre nas dissimulações.

Além disso, PH tem problemas de saúde a superar, visto que nos próximos dias retorna ao hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para tratamento decorrente da retirada de um tumor na bexiga.

De palpável mesmo é que aquela história de o governador virar coadjuvante na eleição de 2018 parece pura conversa.

Até a sucessão de Temer está no seu radar, de preferência com ele na fita. Enfim, o poder não é apenas afrodisíaco. Assim como os amores covardes não vingam, o poder é lugar onde os fracos não têm vez.

*Luiz Trevisan é jornalista político e músico capixaba.