Dizem que em 2050 – logo ali, pois – dois terços da população mundial viverão em cidades. Se considerarmos que atualmente 55% da humanidade já vivem nelas perceberemos que esta não é uma previsão absurda – muito pelo contrário.
Eis aí algo um quadro que poderá criar oportunidades maravilhosas para o desenvolvimento – ou problemas terríveis. Tudo dependerá do que faremos nas próximas três décadas, em preparação para este momento.
Se até 2050 prepararmos a infraestrutura física e administrativa necessária para esta nova realidade colheremos os frutos produzidos por cidades vibrantes e dinâmicas. Se falharmos, porém, teremos as atuais cercadas por vastos cinturões de miséria entregues à criminalidade.
Lancemos nosso primeiro olhar para a estrutura física. Considere que as cidades ocupam apenas 2% da área do planeta, mas produzem 70% do lixo e emitem idêntico percentual dos poluentes nele lançados. Consomem 60% da energia produzida no mundo.
A conclusão é absurdamente simples: há que preparar nossas cidades para este momento. Mas qual o que! 75% da infraestrutura necessária ainda não existem nem em projeto. A propósito, percorra a periferia dos nossos maiores aglomerados urbanos e veja que, já para hoje, o despreparo é chocante.
Não subestime este problema. Prevê-se, por exemplo, que em 2050 Lagos, na Nigéria, terá 88 milhões de habitantes. Dhaka, no Bangladesh, 76 milhões. E Kinshasa, na República Democrática do Congo, 63 milhões. Imagine estas três cidades entregues à favelização – e trema.
O olhar seguinte será sobre a presença do Estado nestes locais. Se efetiva haverá educação, saúde e segurança. Caso contrário, estaremos a falar de locais entregues ao crime e condenados à miséria – arrisco dizer que, aí, a omissão das instituições terá sido tão irresponsável quanto assassina.
Pense, finalmente, naquela preciosa estabilidade jurídica – sem a qual não há economia que se sustente. Dos nossos preparativos sairá a definição do volume e do tipo de investimentos que nossas cidades receberão. Afinal, quem irá investir de forma séria em cidades sitiadas?
As atuais favelas podem, assim, ser parte da solução ou do problema. Só depende de nós. Agora levante-se. Vá à janela. Contemple o mundo que temos construído. E pense na geração seguinte: o que ela encontrará?
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo