Luiz Trevisan

“Casagrande ganhou solidez para cumprir o papel de principal opositor do seu sucessor. E veio fazendo isso com empenho ao longo do terceiro mandato de PH”

De olho na sobrevivência na selva da política ameaçada pelo tsunami eleitoral, é cada vez maior a fila de lideranças e candidatos rumo à arca de Renato Casagrande (PSB), o ex-governador, favorito nas pesquisas, que poderá ter a rara chance de voltar ao Palácio Anchieta e reparar equívocos do passado.

Entre eles, o de ter sido obrigado a abrigar uma espécie de “Cavalo de Tróia” em sua equipe. A questão agora é que a Arca de Casagrande já dá sinais de excesso de lotação em meio a uma camuflada euforia do ”já ganhou”, principalmente após o governador Paulo Hartung desistir da reeleição.

Diz um ditado bem conhecido nos bastidores das campanhas que as adesões e apoio são sempre bem-vindos, exceto quando trazem graves efeitos colaterais, sendo que a depuração virá lá na frente com a formação da equipe de governo.

Porém, quando assumiu o governo, em 2011, premido pelas circunstâncias, Casagrande abrigou diversos aliados de Paulo Hartung (PH) em sua equipe. A Cesan, por exemplo, virou território de indicação de PH para cargos de comando.

O que se viu em seguida foi o delinear de dois territórios: Casagrande tentando imprimir sua marca. Do outro lado, vários aliados de PH preocupados em aplainar terreno para a volta do então ex-governador.

Houve exceções, como Ênio Bergoli, que serviu com lealdade tanto a PH quanto a  Casagrande. Aquela aliança de conveniências e conflitos ficou evidente nos bastidores, e durou até 2014.

Vale destacar que no início da convenção do PMDB, quando foi homologada a terceira candidatura de PH ao governo, ainda havia partidários de Casagrande acreditando que PH seria candidato ao Senado e apoiaria a reeleição do governador.

Enfim, ali veio à tona o conflito, PH se lançou candidato contra Casagrande e levou a melhor na disputa eleitoral. Curiosamente, Casagrande “perdeu ganhando”, para utilizar uma expressão típica de PH.

Com expressiva votação, notadamente na Grande Vitória, Casagrande ganhou solidez para cumprir o papel de principal opositor do seu sucessor. E veio fazendo isso com empenho ao longo do terceiro mandato de PH.

Agora, outra discussão paralela: quem irá defender o legado de PH? A senadora Rose de Freitas (Podemos), embora também tenha em seu arco de alianças alguns partidários de PH, não parece ser a mais indicada para esse papel.

Nos últimos anos, ela esteve sempre mais próxima de Casagrande do que PH, e agora aparece como principal concorrente de Casagrande. Ah, as nuvens e a política sempre mudando, embora pareçam iguais.

E imaginar que há poucos meses Rose era vista como uma candidatura estratégica para levar Casagrande a um segundo turno contra PH.

De resto, Rose já está “no céu”. Além de ter mais quatro anos de mandato no Senado, parece interessada em se fortalecer para a sucessão 2022.

Há outros concorrentes ao governo, de pesos variáveis e ainda imensuráveis, contudo a impressão é que por pouco Casagrande não foi obrigado a recorrer a um “Tio João” como oponente, como fez Sergio Vidigal disputando a Prefeitura da Serra, anos atrás, quando não surgiu ninguém para enfrentá-lo.

Vale também prestar atenção no professor Aridelmo Teixeira (PTB), não por sua densidade eleitoral, desconhecida até aqui, mas por representar a ONG ES em Ação. Essa ONG reúne parte da nata da mais tradicional elite empresarial do ES, tem bala na agulha, apoiou PH desde o primeiro mandato e está acostumada a incentivar certas candidaturas e desidratar as consideradas ”inconvenientes”.

Não tem voto, mas pode influenciar e vai botar fichas na eleição de deputados. Até para ajudar a defender o legado de PH e ter poder de barganha com quem irá sentar na principal cadeira do Palácio Anchieta. Vão se os anéis…

Enfim, a pergunta que não quer calar: por que PH não foi para a reeleição, como tudo indicava? Rejeição alta, relutância da família, condições de saúde, certa decepção com parte da própria equipe e, principalmente, em relação à base aliada?

Parece ser um pouco disso junto e misturado. Note que quando ele foi passar o bastão, como disse que faria, não encontrou ninguém com musculatura suficiente. Depois, ensaiou uma meia-volta, mas àquela altura o PSDB já estava, com todas suas alas divergentes e o vice-governador Cesar Colnago à frente, batendo na porta de Casagrande.

Agora, PH vai tentar ajudar a eleger o máximo de aliados, principalmente na Assembleia Legislativa. E segundo aliados mais próximos, acalenta virar ministro futuramente. Quanto ao seu grupo, restou recorrer à tese árabe do carregamento dos ovos: espalhar por cestos diferentes, para evitar uma perda total.

Luiz Trevisan é jornalista capixaba.